Este é um espaço dedicado à Literatura em todas as suas vertentes. Da popular à culta, tanto leitor leigo quanto o especializado poderá se deleitar com indicações de livros, resenhas, notícias de publicações, de autores, poemas meus, textos críticos meus, enfim, um espaço onde manteremos conversa de nos encher os olhos da alma.
Nada faço mais
que esperar...
espero
desespero
inespero
nessas paragens
nesses pontos de passagem
onde chego
e saio
sem me dar conta
mas levando comigo
a conta da saudade
em moedas de valor
inegociável.
Minha noite,
este cais,
este barco à deriva,
esta âncora
levantada ao vento,
vela em sopro lento.
Minha noite
turbu
lenta
lenta
turva
interminada.
Minha noite
em vigilância
ânsia
de dourar o infinito,
de tocar a claridade, baixar âncora.
O corpo existe como parte de um mundo que nele penetra re-ativando todo o seu interior que se deixa expor em forma de emoções as mais diversas, nas mais variadas épocas. Edgar Morin (1988, p.11) nos explica que a crise cultural que se instaurou na década de 60 fez ressurgir “os grandes Recalcados”, dos quais o último foi a morte. E, pela forma como foi tratada, fez aparecer uma nova espécie de “tanatófagos”, na qual incluímos aqui Cortázar, pelo modo como ressignificou o tema em seus contos, entrelaçando-o à vida e a tudo que lhe é inerente. O amor, a angústia, a (in)certeza e o medo da morte faz com que corramos para a vida como um caminho de salvação. Planells (1979, p.79-80), estudioso de Cortázar, nos diz que em seus contos não conseguimos encontrar um sentimento amoroso verdadeiramente intenso. Ao sentimento amoroso está sempre ligada a idéia da morte. Para ele,
en ninguno de esos variados textos es posible encontrar un sentimiento amoroso intenso. El amor que presenta Cortázar está siempre en función de la carne o del arte; la crítica ya ha señalado que en su obra ‘no se encuentra el motivo del amor, que suele ser una tabla de salvación para los personajes de muchos autores.’ Aparecen, sí, el deseo sexual desprovisto de ternura, o bien el sentimiento intelectualizado carente de profundidad afectiva, como resultado de la soledad y la incomunicación. Los personajes de Cortázar son incapaces de amar, sólo pueden desear.
E aqui acrescento ao pensamento de Planells: se o amor em Cortázar está sempre em função da carne, da morte e da arte, nos contos ditos comprometidos diria que está em função do político-ideológico. De modo que o corpo na narrativa cortazariana nunca se encontra em repouso, está sempre conflitivo, insatisfeito, incompleto, correndo riscos, tentando eternizar o instante presente pelo jogo da vida, da sedução e, no caso de muitos dos contos analisados, pelo desejo de uma realidade melhor ou pela fuga da realidade presente e, por fim, dá-se a completa insatisfação. Enfim, geralmente acaba por bater de frente com a morte.
O vento corta veloz a noite.
O luar corre comigo
lado a lado.
Sinto que sou livre
como a nuvem
que se esvoaça no céu.
Sinto que sou eterna.
Tudo passa.
Lua
vento
pensamento
Eu,
Fico.
Sonhei que estava tão próxima de tua face, tão dentro de teus olhos, que conseguia visualizar o azul sem tempo que paira sobre o espaço onde te mostras e te encantas e mais me encanta.
Sonhei com a penugem de tua alma de gato e, de tanto, tanto acariciá-la, foi se de(s)compondo em redemoinho, fumaça, ilusão.
Voltei. Como quem volta de uma longa viagem pelo tempo. Fui em busca da fórmula mágica da vida em toda a sua plenitude. Mas a vida se perdeu no meio do caminho do tempo e virou o instante presente, a vida presente, para seguir Drummond. Porque há pedras no meio do caminho, ou dos caminhos, há homens partidos, há uma rota de coalisão na qual a gente se perde e se encontra e encontra o outro e o perde no mesmo instante. Voltei, porque voltar é mais difícil que desistir.